Segundo os médicos, fibras são parte importante de nossa alimentação diária... mas fibras para comer! E para vestir? Forrar a cama? Cobrir a mesa? Alguém já pensou nisso?
Comecei a perceber melhor e sentir mais prazer ao lidar com fibras no tempo em que era viciada em ponto cruz, há cerca de dez anos: desenrolar uma meadinha nova, cortar e embainhar o linho... era um ritual muito prazeiroso. Nessa época também surgiu a decepção de perceber que aqui no Brasil não temos os mesmos materiais lá de fora. E aí começaram as pesquisas na internet, as encomendas do exterior.
Em seguida veio o vício dos retalhos – e o prazer de lidar com os tecidos 100% algodão. E a guinada que me fez largar a profissão e virar professora de patchwork. Vou contar essa história mais para a frente... esta postagem é só uma introdução.
Pesquisa vai, pesquisa vem, comecei a ler sobre mais tradições... cultuadas no exterior. Descobri que lá fora se fia, e muito; que existem publicações especializadas; e festivais de fibra; e inúmeros revendedores de matéria-prima e equipamentos. Descobri que aqui mesmo na América do Sul existem comunidades que produzem lã orgânica artesanalmente; conheci projetos como o Manos del Uruguay, o Malabrigo... e no Brasil?
No Brasil, uma terra com tantas tradições, a gente se contenta em sair do armarinho com um pacote de “lã” 100% acrílico, produzida em larga escala, de qualidade duvidosa e cujo processo de fabricação é extremamente agressivo ao meio-ambiente. Lá fui eu atrás de lã natural made in Brazil, de um carpinteiro para me fazer um fuso, de um fabricante de roca!
Encontrei? Sim, e descobri gente bacana nesse processo. Gente pioneira que tenta mudar o panorama, plantar a sementinha do amor pela matéria-prima obtida e utilizada com sabedoria; gente que valoriza mais a qualidade do que a quantidade; gente que cresceu vendo a avó fiar para a família toda, e sabe que isso era mais do que uma simples tarefa braçal.
Este blog é uma tentativa minha de entrar para essa tribo; eu faço crochê, bordo, costuro, tricoto, fio minha própria lã e estou aprendendo feltragem. Mas sei que ainda tenho muito a descobrir, muito a resgatar, muito a semear. Convido todos a acompanhar essa história comigo.
Aqui no “Falando de Fibras” haverá postagens sobre:
- matéria-prima, materiais e equipamentos;
- técnicas;
- tradições;
- livros e revistas especializadas;
- reflexões sobre consumo;
- processos de fabricação e seu impacto sobre o meio-ambiente;
- artesanato, criatividade e direitos autorais;
- gente!
Sejam bem vindos!
E para dar água na boca e aguçar a curiosidade, aqui vai uma pequena seleção de fotos:
Legenda:
1. Bolsa tricotada e feltrada;
2. Árvore de Natal e diorama tricotados e feltrados;
3. Cachecol tricotado com a primeira lã que fiei e tingi (não contem para ninguém que a cor que eu queria era bordô);
4. Painel em patchwork, e a antiga máquina de costura de minha avó!
5. Lãs 100% naturais, garimpadas no eBay ou fiadas por mim;
6. Jogo de fusos de madeira feitos pelo Seu João "Cabelo", do bairro São João; vou falar dele e de sua oficina mais para a frente, e de como se fia com fusos;
7. Livros sobre fazendas orgânicas, festivais de fibras, tricô e tipos de lã.
3 comentários:
jane, admiro de montão seu empenho, sua entrega! Parabéns pelo blog e espero aprender muito, sempre!
Beijão e sucesso!
Puxa, aí está você - estreou os comentários! Obrigada!!!
Já estou aqui prontinha para acompanhar essa história que com certeza será um sucesso e na qual sei que aprenderei muuuiito! Delícia de ler o texto da primeira postagem. Parabéns pela determinação e muita merda pra você, rs rs rs rs!!!
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