domingo, 6 de maio de 2012

Sim, é possível!

Neste sábado, dia 05 de maio, membros da ACAJAL saíram em mais uma pequena "viagem de campo": desta vez, o local visitado foi o Sítio Duas Cachoeiras, em Amparo, estado de São Paulo. Mas antes de contar sobre a visita é hora de falar um pouco do trabalho do núcleo de artesanato da ACAJAL.

A ACAJAL - Associação de Cultura e Artes José Antônio Lobo - é uma associação sem fins lucrativos, que busca apoiar e desenvolver ações e projetos nas áreas social, cultural e artística aqui em Pouso Alegre; dentro dela há diversos núcleos de trabalho: música, teatro, tradição, artesanato... por enquanto! Eu coordeno o núcleo de artesanato, que tem a missão de:
  •  resgatar tipos de artesanato de raíz que já foram praticados na região, ainda que de forma desorganizada e informal;
  • documentar e divulgar as técnicas de tais formas de artesanato;
  • implementar projetos que tornem acessíveis à comunidade o aprendizado e a prática de antigos e novos tipos de artesanato legítimo, e que possam ser ferramenta educativa junto à escolas e outras instituições;
  • viabilizar a criação de cooperativas que proporcionem um ofício e uma renda a pessoas necessitadas.

Por artesanato legítimo entendemos a prática do trabalho manual feito por pessoas da região, com matéria-prima da região, e inspirado em temas da região.

Assim sendo, o núcleo está no momento desenvolvendo um projeto que visa ao resgate da utilização da lã de carneiro no Sul de Minas. Eu comecei a me interessar por esse assunto há cerca de quatro anos, quando constatei que no exterior usa-se muito as fibras naturais na confecção de fios para artesanato, e aqui no Brasil quase tudo é sintético. Quem acompanha o blog sabe que de lá para cá aprendi a fiar com fuso, depois na roca; embrenhei-me em pequenas propriedades atrás de lã natural, cardei lã com rasqueadeiras de pentear poodles... E, ao longo desse aprendizado, fui contatando pessoas e histórias começaram a surgir. As pessoas ficam sabendo desse meu interesse e vêm contar sobre a avó que fiava, a tia que cardava lã e recheava acolchoados, a vizinha que tem ainda a tesoura de tosquiar utilizada pelo pai... também descobri pequenas criações na região - em Pouso Alegre, Maria da Fé, Ouro Fino, Jacutinga...

Dessa forma, quando conversei pela primeira vez sobre artesanato com pessoas da Secretaria de Cultura e Turismo de Pouso Alegre, surgiu a idéia de elaborar um projeto para resgatar a utilização da lã. A ACAJAL acolheu o projeto e apoiou tais idéias. Desde então eu e o pequeno grupo que reuni estamos trabalhando no aprendizado de técnicas e na busca de empreendedores que aceitem o desafio de iniciar uma produção bem orientada e aproveitada.

O processo não é fácil, e há muito o que fazer. As pessoas envolvidas são voluntárias, o tempo é curto e a verba também. Mas é preciso acreditar na tarefa, e nesse aspecto temos sido encorajados pelo contato com pessoas especiais, que apostaram em projetos como o nosso e obtiveram sucesso. Não falo do sucesso que o mundo enxerga e aplaude, mas do sucesso de, aos poucos, juntar as peças e estruturar uma propriedade sustentável, voltada para a educação ambiental, o manejo justo dos animais, o aproveitamento racional dos recursos da natureza; de ser referência em sua área de trabalho, e ter prazer e boa vontade de compartilhar a experiência adquirida em anos de luta.

É assim que eu descreveria o projeto de vida do casal Guaracy e Cecília Camargo, do Sítio Duas Cachoeiras. Ontem eles abriram mão de sua tarde de sábado e nos receberam generosamente, sem esperar nada em troca, com evidente satisfação de nos mostrar a propriedade e falar de sua rotina de trabalho, do manejo dos animais, dos roteiros de aprendizado que elaboram para receber grupos de estudantes. O carinho e o cuidado da dupla estão evidentes no olhar que têm para os carneirinhos e na maneira como falam da história de cada um; no capricho que se percebe nos espaços designados para o ensino das diversas atividades - fiação, tingimento, tecelagem; e na paixão com que falam de sua lida diária, que já dura 25 anos.

Histórias assim nos convencem de que nosso projeto é possível; mas é preciso, segundo eles, aprender a viver com simplicidade; e acordar todos os dias disposto a aprender mais, para que seja possível eliminar despesas. O envolvimento tem de ser constante e direto.

 E a recompensa? Os jovens aprendem? O interesse das crianças é conquistado? "Nem sempre", diz Guaracy; mas ele conta a história do rapaz, formando em agronomia da Universidade de Lavras, que telefonou convidando-o para uma palestra. Quando perguntou onde o rapaz tinha ouvido falar sobre o trabalho do sítio, ouviu a resposta: "Assisti a uma palestra sua quando estava na 7ª série...". A sementinha germinou.

Enfim, há muito o que mudar nesse mundo, há muito que se aprender e ensinar sobre o respeito à natureza. Que bom conhecer um pouco das pessoas engajadas nessa tarefa.

Abaixo, as fotos da visita. Mais informações sobre o Sítio Duas Cachoeiras no site.


Sincronicidade: na viagem de ida, erramos o caminho e fomos parar em Jacutinga por acaso; na estrada entre Jacutinga e Amparo, fomos premiadas com esta visão de carneirinhos trotando em fila indiana. Mas estes parecem ser da raça Santa Inês, que não produz lã: são criados para corte.

 
Na entrada da cidade, a recepção do casario de época.

Mas a cidade na verdade não tem esse perfil; mais a frente nos surpreendemos com a modernidade e com a quantidade de grandes indústrias - como a Seara e a Ipê.

O casal Cecília e Guaracy, nossos anfitriões, e nós da ACAJAL - Inês, eu e Ana Rita.

Os carneirinhos são dóceis e aceitaram nossa presença tranqüilamente; Guaracy explicou que isso não acontece com animais criados para corte - eles ficam nervosos à menor aproximação. No Sítio Duas Cachoeiras os animais morrem de velhice.


Guaracy ensina sobre as propriedades do extrume e seu aproveitamento.

Guaracy fala dos extratos naturais utilizados no tingimento vegetal das fibras.

Salão com informações para grupos de visitantes, demonstração dos roteiros de aprendizado e exposição de peças artesanais, plantas e fibras.

Cantinho da deliciosa sala de fiação e tecelagem.

Cecília demonstra a fiação, em roca de pedal, das fibras de seus próprios carneiros.

Sombras de fim de tarde na varanda do casarão principal.


No momento da despedida, o pôr do sol.

E no caminho de volta, a companhia da lua. Nessa noite ocorreu o fenômeno conhecido como "Super Lua Cheia".

Final perfeito de um dia perfeito!

Atá a próxima!

3 comentários:

Su disse...

Jane, adorei este post! Com certeza vou agendar uma visita para conhecer esse sítio!!! Bju e obrigadas pelas dicas.

Su disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Jane Rotta disse...

Oi, Suelen! Seu comentário saiu duas vezes! Excluí um deles, ok? Obrigada pela visita!!!