sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Vozes e Fios

"Era uma vez uma voz.
Um fiozinho à toa. Fiapo de voz.
Voz de mulher. Doce e mansa.
De rezar, ninar criança,
muitas histórias contar.
De palavras de carinho
e frases de consolar.
Por toda e qualquer andança,
voz de sempre concordar.
Voz fraca e pequenina.
Voz de quem vive em surdina.
Um fiapo de voz que tinha todo o jeito de não ser ouvido...".

Assim começa o livro "Ponto a Ponto" de Ana Maria Machado, editado pela Companhia das Letrinhas.



A "voz" em questão vai contar muitos trechos de estórias clássicas mundialmente conhecidas dentro da estória principal. Todas têm a ver com as mulheres e o trabalho manual têxtil feminino. Assim, temos a lenda de Aracne; da menina que teceu túnicas para salvar os irmãos enfeitiçados; da Bela Adormecida e sua desventura causada por uma roca (ou antes, uma bruxa); da jovem que supostamente fiava palha em ouro; das velhas que fiavam e controlavam a vida dos outros...e muitas outras.

Mas bacana mesmo é a estória principal: porque a tal voz mansinha e submissa vai virar um vozeirão - vai aprender com as estórias que conta e com seu próprio trabalho manual. E vai se libertar.

Enquanto a voz vai contando estórias e se transformando, o leitor vai se deliciando com as ilustrações singelas de Cristiane Röhrig, bordadas à mão:





Eu tenho esse livro já faz alguns anos, e de vez em quando gosto de reler. E relendo mais uma vez não pude deixar de fazer uma associação com o filme "O Discurso do Rei", que assisti recentemente. No filme (estória verdadeira) o príncipe gago relutantemente se torna rei por conta da abdicação do irmão mais velho. E tem de aprender a impôr sua voz. Na melhor cena do filme (que felizmente faz parte do trailer abaixo) ele finalmente percebe isso discutindo com seu professor de oratória:


Pois é.. encontrar a própria voz em um mundo de tantas influências é bem complicado... o livro da Ana Maria Machado, aparentemente infantil, também faz gente grande refletir!

Inté!

terça-feira, 14 de agosto de 2012

O Útil e o Muuuuuito Agradável

Imagine aperfeiçoar suas habilidades no tear durante um fim de semana inteiro, em um sítio delicioso, com pessoas especiais, em meio à natureza... fugir da rotina e lavar a alma, e de quebra aprender muito! Olha só a oportunidade aqui:


O Sítio Duas Cachoeiras é um pedaço do céu em Amparo, SP; eu e o pessoal da ACAJAL estivemos lá em maio e o relato da visita você encontra aqui.

Eu não posso ir ainda - preciso esperar um curso para principantes - nunca, nunquinha, fiz tear. Mas quem puder, aproveite!!!

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Terrorismo diferente

Yarnbombing. Bombardear...com fios! Já tem até verbete na wikipedia. Trata-se de um tipo diferente de "terrorismo" - com propósitos alternativos, nesse caso: pode ser chamar atenção para uma causa social, pedir donativos ou simplesmente demonstrar apreço pelas ruas, pelos bairros, pela cidade. Como se faz?

Assim, ó:


Ou assim:


Ou que tal assim?


Tá certo - exageram nessa última foto. Mas é de verdade: a cidade de Cambridge (Ontario, Canada) já teve uma forte tradição têxtil que foi se perdendo aos poucos. Para trazer essa história à tona a artista Sue Sturdy decidiu forrar uma ponte inteira com crochê e tricô, e para isso arrebanhou a ajuda de mais de 1000 artesãs de lá e de outros cantos do mundo. Após a exposição, todas as peças utilizadas - mantas e cachecóis- foram lavados profissionalmente e doados a instituições de caridade. 

Esse foi um exemplo radical, mas as yarnbombers - grupos de "terroristas" que praticam ataques com fios - estão ficando populares. As americanas Jafagirls começaram a coisa, que já se ramificou e deu origem a outros grupos. 

Aqui no Brasil o movimento já deu as caras, também, e ganhou o nome de "guerrilha de tricô". Em julho deste ano as participantes do Tricô Tchê organizaram um evento assim em Porto Alegre - como forma de divulgar uma campanha de doação de mantas a pessoas carentes.

Acho a idéia super bacana. Mas não sei, não: morro de ciúmes de minhas peças tricotadas... acho que se eu forrasse um banco em praça pública com meu tricô eu ia ficar lá, de plantão, guarda-chuva na mão, protegendo do sol e da chuva!

E para encerrar, uma reportagem interessante sobre gente que aderiu à pratica aqui no Brasil:


Alguém aí pensando em aderir?