sábado, 17 de dezembro de 2011

Minha roca chegou!

Não estava nos planos voltar a postar hoje, mas não resisti: minha roca, procurada há dois anos, finalmente comprada duas semanas atrás, chegou hoje! Veio de Santa Catarina, fabricada pela Arte Viva Teares.

E qual é a sensação?

Bem... imagine que você nunca viu um carro. Carros são raros. Mas você tem uma bicicleta e a usa muito bem - vai para todo lado, faz o que quer, totalmente no controle. Um dia, finalmente, você compra um carro, e fica se achando: ora, se a bicicleta, que requer equilíbrio e força, você tira de letra, então o carro vai ser moleza: é movido a gasolina, você só tem de sentar e girar o volante para lá e para cá. Tão simples. Aí você senta ao volante e a ficha cai.

É o que está acontecendo comigo: eu fio com fuso há um ano, sem problemas. A roca de pedal, na teoria, seria apenas mais rápida, mas a verdade é que você tem de fazer tudo proporcionalmente mais rápido, também. Em resumo: tô apanhando.

Fazer tudo o que? Até onde sei não há terminologia em português para as etapas da fiação artesanal; então vou descrever do meu jeito: é preciso colocar torção na fibra já fiada ou no líder, formando uma barreira; desfiar a fibra seguinte para que fique só o volume certo para a espessura de fio que queremos criar; por fim, remover a barreira e deixar a torção acumulada invadir a fibra desfiada, formando o fio. No fuso é bem simples, mas na roca é preciso adquirir coordenação motora para assobiar e chupar cana.

Vou ficar devendo hoje videos em português mostrando esses dois processos. Mas quem está muito curioso pode dar uma olhada nesses aqui, em inglês mesmo:

Fiando com o fuso:
http://www.youtube.com/watch?v=s99KZZOZ4q4&feature=related

Fiando com a roca:
http://www.youtube.com/watch?v=COPAd45ciTA&feature=related

Neste último vídeo a danada da Abby Franquemont - uma fera no assunto - diz que basta usar uma mão - com a outra você pode segurar uma cerveja ou cafezinho... Grrr... sem comentários! Mas como foi com livros e vídeos da mesma Abby que aprendi a usar o fuso um ano atrás acho  melhor eu ficar quieta e dar algum crédito a ela.

Espero voltar em breve para contar que estou fiando maravilhosamente na roca. Enquanto isso, fiquem com fotos do tumultuado cantinho onde tento aprender:

Eu queria uma roca vintage, mas não consegui - tive de me contentar com esta versão de fabricação moderna.

Vista que tenho de cima quando estou sentada fiando...

...de frente...

... e a razão para a roca estar perto da minha mesa de trabalho: 
o socorro vem da internet, dos livros e das revistas especializadas. 
E o CD novo da Amy Winehouse está rolando no notebook, 
porque a música acalma os animais!

Até a próxima!

Como fui parar nesse universo

Na semana passada eu pintei um rápido panorama de como vai o universo das fibras para trabalhos manuais tipo tricô, crochê, tear, etc. E no Brasil?

Aqui no Brasil me parece que estamos andando para trás - por mais doloroso que seja admitir isso.

Eu faço crochê desde menina mas andava meio afastada desse departamento. Cidade grande, trabalhando fora durante anos, vida corrida... Depois saí do emprego para acompanhar o marido, transferido para Salvador; nos dois anos que passamos lá o "comichão" dos trabalhos manuais começou a vir à tona; mas vieram outras mudanças, e foi aqui em Minas que finalmente tive tempo de me interessar de novo, para valer: vim para cá grávida de dois meses - nem tive chance de procurar emprego. Mergulhei no ponto cruz e nas costurinhas!

E foi aí que comecei a enxergar que as coisas por aqui estavam meio no atraso; ganhei de presente "A Bíblia do Ponto Cruz", da Jane Greenoff, e vi quanto material lindão existe pelo mundo. Aqui, eu ia às lojas e só encontrava uma etamine meio de má qualidade, que deixava as cruzinhas destorcidas; e as meadinhas básicas de sempre. Lá fora, bordava-se em linho Zweigart e havia meadinhas de algodão, de linho, de seda... Enfim, comecei a fazer comprinhas online e me apaixonei pelos samplers, um tipo de bordado que não havia visto por aqui. Estes são alguns que bordei naquela época:


A essa altura o patchwork já estava começando a dominar a cena - montei um ateliê em casa, larguei a profissão (aulas de inglês e traduções) e vivo das aulas de patch há três anos. Mas aí comecei a sentir falta de outra válvula de escape - já que o hobby das costurinhas havia virado responsabilidade. Entrou em cena o tricô.

E foi aí, procurando lãs para tricotar, que a maior decepção veio; até então a palavra "lã" para mim era meio sinônimo de "fio", sei lá. Lã era lã; nunca havia parado para pensar na composição dos fios industrializados. Entrei para o Ravelry - uma mega comunidade internacional, online, para tricoteiras e crocheteiras; comecei a pesquisar projetos, a olhar o que as pessoas tricotam mundo afora, e esbarrei nos termos wool, cashmere, mohair, alpaca, angora, qiviut...e handspun. HANDSPUN ?! Mas isso quer dizer fiado à mão! Opa! Há mais sob o sol do que supõe a pobre prateleira de nosso aramarinho local...

Sim, há mais, muito mais... Entrei em um turbilhão de informações e hoje há muito que pesquiso e reflito. Tipo: muitas fibras naturais vêm dos animais, coitadinhos. Vamos usar os sintéticos. É, mas os sintéticos são fabricados através de processos extramamente agressivos para o meio ambiente...E aí? 

Bom, só estou introduzindo essa polêmica. Esta postagem está ficando enorme e nas próximas vou entrar mais nesse assunto. Mas antes de estender a polêmica vou mostrar um pouco dos fios que andei comprando lá de fora, e trabalhos feitos com eles. Vou falar também do que temos no Brasil, do que os fabricantes lançaram este ano e do que foi tirado de linha. Na  próxima postagem, Breve!

Vamos conhecê-los de perto na próxima postagem!