sábado, 4 de agosto de 2012

Descobertas

Tenho andado ocupada nas pesquisas. Em inglês, "pesquisar" é research. Como "search" é procurar, entende-se que "re-search" é procurar, e procurar novamente! E é isso que tenho feito...

 Provar que a utlização da lã de carneiro já foi corriqueira por aqui: eis a maior preocupação do projeto da ACAJAL que busca resgatar e documentar essa prática na região. Assim sendo, continuo buscando contatos, conversando com pessoas e juntando informações. Já descobri histórias em várias cidades aqui no Sul de Minas - Borda da Mata, Santa Rita do Sapucaí, Bueno Brandão, Ouro Fino... só não contava com essa: assistindo a um vídeo da D. Zélia Scholz, renomada fiandeira e tecelã que ensina em Curitiba, PR, ela começa a falar da tradição do uso da lã de ovelha em sua família e de sua infância... em Minas Gerais!

O vídeo é este:


Pois é... eu jurava que D. Zélia era do sul, mas essa artista talentosa é daqui. Ela é uma das pessoas que lutam para divulgar e manter a tradição da fiação artesanal no Brasil. Para saber mais, visite seu blog. Foi lá que eu li essa interessante lenda, que eu não conhecia.

Já contei aqui que ganho meu dia quando faço uma descoberta dessas? Hoje ganhei o mês!

Bom fim de semana!

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Voltando às Raízes

Já dizia Caetano que gente nasceu para brilhar - não para morrer de fome. Mas, às vezes, é preciso um empurrãozinho para as pessoas entenderem seu valor e terem a chance de brilhar - ou, pelo menos, (re)conquistarem a autosuficiência e o respeito próprio.

Esses dias li a respeito do The Molo Wool Project. Molo é uma cidade no Quênia, África. Nessa região, a etnia predominante é a Kikuyu, um povo Bantu. A história é clássica: eles viviam na santa paz até que chegaram os europeus, que ocuparam suas terras, impuseram sua forma "civilizada" de vida e sufocaram as tradições locais.

Um livro bacana que fala desse processo é A Fazenda Africana, de Isak Dinesen - na verdade pseudônimo da dinamarquesa Karen Blixen (ganhadora do Nobel de Literatura), que administrou uma fazenda de café perto de Nairobi (a capital) no início do século passado. O livro virou o filme "Entre Dois Amores" e ganhou o Oscar. Não é a mesma coisa que o livro, mas mostra como a fazenda acabou sendo retalhada e transformada em loteamento, desalojando os Kikuyus que lá viviam.

A atriz Meryl Strip com os Kikuyus em cena do filme "Entre Dois Amores", de 1985.

Outro filme interessante ilustra o final da história: O Jardineiro Fiel se passa nos dias atuais e mostra como até hoje o povo local é visto como ferramenta útil pelos poderosos.

Mas voltando aos Kikuyus: originalmente, a grande riqueza desse povo era - adivinhem! - o carneiro. Dos carneiros provinha sua principal atividade econômica e meio de vida. Mas isso se perdeu, e hoje esse povo tenta sobreviver e fugir da miséria, que se agravou depois da onda de violência pós-eleitoral em 2008: muitas mulheres perderam seus maridos e vivem precariamente, em barracos, tendo de seu apenas o produto de uma "agricultura" de subsistência cultivada em poucos metros quadrados de terra.

O projeto de resgate da utilização da lã - The Molo Wool Project - está mudando a vida de algumas dessas pessoas. A Americana Gwen Meyer, diretora do Friends of Kenya Schools and Wildlife -FKSW ("Amigos das escolas e da vida selvagem do Quênia"), ensinou as mulheres a processar a lã, fiar, tingir e tricotar peças recheadas representando os animais selvagens da região - leões, elefantes, leopardos, zebras, etc. É o que chamamos de artesanato legítimo: aproveitamento de matéria-prima e inspiração locais.


No momento o projeto vende seus produtos nos EUA. Com a renda obtida, já foi construída uma sede. E com a melhoria de seus rendimentos pessoais, as participantes hoje moram em casas de verdade, e são capazes de vestir e alimentar suas famílias.

Além dos benefícios materiais, essas mulheres hoje conhecem seu valor e seu potencial: "o Molo Wool Project proporcionou um ambiente encorajador para que as mulheres descubram e expressem seus talentos. Mais artistas do que artesãs, elas não usam moldes para produzir suas peças: criam seus próprios itens observando os animais de verdade!". (Trecho do artigo publicado pela revista Spin-Off em 2011; cópia integral do artigo aqui).

Vou encerrar com o depoimento de uma das participantes:


Diz Jane Wambui, "Agora, no grupo, sentimos que somos mulheres dignas. Sou capaz de alimentar bem os meus filhos (...). Isso transformou minha vida. Acredito que vou continuar tricotando e um dia vou construir outro cômodo. Estou muito feliz."