segunda-feira, 28 de maio de 2012

Estou fiando...! E agora?

Manter um blog é um desafio e requer disciplina, mas tem também o lado gostoso: as pessoas que a gente conhece. Tenho trocado uns e-mail bem legais com a Myriam, de Viçosa. Minas também, mas longe de mim - que pena! Temos trocado informações sobre fiação e ela me indicou uns sites bacanas. Ontem a Myriam me escreveu para esclarecer uma dúvida, e achei interessante responder aqui no blog porque pode ajudar outras pessoas também. A questão é a seguinte:


"Depois que o fio está lá enroladinho no fuso, tem que fazer alguma coisa? Vi um vídeo de uma senhora portuguesa falando algo de torcer o fio depois, mas não entendi direito." 

Vamos lá:

O fio enroladinho no fuso é um single - um fio simples, torção única. E pode ser usado simplesmente assim. Quando o fuso estiver cheio, transfira o fio para um niddy-noddy; depois amarre como uma meada e mergulhe brevemente em uma bacia com água morninha e amaciante; escorra, esprema em uma toalha e pendure para secar. Dependendo da quantidade de torção no fio, talvez seja bom colocar um peso leve.

O niddy-noddy  ajuda a enrolar e medir a meada, 
mas pode-se usar também as costas de uma cadeira.

O peso elimina o excesso de torção. Eu normalmente uso um frasco com pistola, 
desses de produtos de limpeza, mas não precisa ser muito cheio.

A quantidade de torção vai depender da espessura do fio: para um fio fininho, fibras mais distendidas e mais torção; para um fio mais grosso, fibras menos distendidas e menos torção. Mas é correto exagerar um pouquinho na torção: ao segurar duas pontas do fio a uma distância de, digamos, uns 20 cm, você vai observar que o fio vai tentar se torcer sobre si mesmo se você aproximar as mãos; é assim mesmo - esse ligeiro excesso de torção será eliminado na lavagem.

Ou....

Você pode optar por torcer dois ou três fios juntos. Esse processo se chama plying e já falei dele aqui. Nesse caso, o fio é equilibrado através de torções opostas: quando se fia os fios básicos, a torção é aplicada em uma direção (você gira o fuso ou a roca em uma direção); depois, na hora de juntar vários fios para torcer de novo, aplica-se torção na direção oposta (girando o fuso ou a roca para o outro lado). Normalmente, o fio básico é torcido para a direita (torção "Z") e o fio composto é torcido para a esquerda (torção "S"):

E qual é a diferença?

Um fio simples é fofinho e bem bonito, mas é menos resistente; um suéter tricotado com um fio assim pode não ser tão durável - especialmente em áreas de grande atrito, como os cotovelos. Para mim, a grande vantagem do fio simples é seu jeitão artesanal, que deixa a peça com um ar de "eu que fiz". Charme rústico!

O fio composto é bem mais forte e resistente. Os fios industrializados são quase todos desse tipo - e o número de plies - ou fios básicos - pode chegar a dez ou doze!


Agora... para acertar mesmo não tem receita nem regra: tem de experimentar. Não existe torção de mais ou de menos, fio forte ou fio fraco, fio bonito ou fio feio: tudo depende do tipo de fio que você deseja, e da utilização que ele terá. Experimente: se não sair como você espera, com certeza alguma coisa você terá aprendido! E o fio resultante servirá para uma coisa ou outra. 

Divirta-se, e boa sorte!